quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Os Quadrinhos no Brasil nós ultimos dez anos - Parte 2

A editora criada por Victor Civita tentou se reinventar mais uma vez. Radicalizou: relançou as revistas de heróis de que ainda tinha direito no formato infantil. Duraram cinco números.

Em poucos meses, a Panini adquiria os direitos de publicação dos demais heróis da Abril. Super-Homem, Batman e outras criações da DC Comics estrearam ainda no final de 2002.

A mudança abalou a histórica seção de quadrinhos da Abril, que se limitou às tradicionais revistas dos personagens Disney. E, mesmo assim, com sinais de cansaço.

A Panini, ao contrário, passou a engordar os espaços que podia nas bancas. E mirava os outros concorrentes, como a linha infantil da Globo, que publicava a Turma da Mônica.

A multinacional firmou em 2006 contrato com Mauricio de Sousa e tirou da Globo todas as revistas dele. Dois anos depois, a concorrente abandonava os quadrinhos de banca.

Na nova casa, o empresário e desenhista se reinventou editorialmente. Criou produtos para adultos e o fenômeno da década, Turma da Mônica Jovem: 400 mil exemplares por mês.

Nos últimos anos, a Panini procura ocupar dois outros filões.

Um deles é o dos mangás. Conseguiu, até com um pouco de sorte. Uma das rivais, a Conrad, passou a rarear os títulos.

A Conrad iniciou o século como líder no segmento. Uma das séries, Dragon Ball e sua sequência, Dragon Ball Z, venderam muito, viraram febre. Outros mangás vieram no embalo.

A JBC era, então, a principal concorrente. E permanece nessa posição com o sensível aumento no número de títulos de mangás da Panini. A Conrad ainda não retomou o setor.

Novas entraram na disputa por uma fatia das obras japonesas: HQM, NewPOP, On-Line. Uma das apostas é nos mangás feitos no Brasil.

O outro filão flertado pela Panini são as livrarias. Lançou álbuns de super-heróis, de hoje e de ontem, mirando o leitor mais maduro. A linha adulta da DC, a Vertigo, reforçou a aposta.

A Vertigo, aliás, é um tópico à parte. Custou para se firmar no país. Basta observar um dos títulos, Preacher.

Preacher iniciou o século na extinta Brainstore. A poucos números do fim da série, a revista foi cancelada. Retornou em 2006, na Devir, na forma de álbum. Do início, de novo.

Nova mudança de editora. Passou para a Pixel, tentativa frustrada da Ediouro de ingressar no segmento. No ano passado, foi retomado pela Panini.

Opera Graphica e Pixel, duas das editoras que lançaram o selo adulto, estão entre as que encerraram as atividades nesta década. O mercado de livrarias, ao contrário, ficou.

Se for enumerado um grupo de editoras de quadrinhos, a maioria hoje investe em livrarias. O retorno das vendas é a médio e longo prazo, ao contrário da velocidade das bancas.

Junto com o novo ponto de vendas, veio uma diversidade de títulos adultos, de diferentes países, nunca vista na história deste país, como costuma dizer o presidente Lula.

Estados Unidos e Europa ainda são as principais fontes do material publicado. Mas já começa a haver sinais de diversificação. Um deles são os títulos argentinos, via Zarabatana.

E há o retorno da gaúcha L&PM aos quadrinhos, filão que explorou em 1970 e 80. Primeiro, incluindo coletâneas de tiras na linha de livros de bolso. Depois, tateando outros formatos.

Outro setor bastante explorado pelas editoras - tradicionais no ramo ou não - são as adaptações literárias, fenômeno que ganhou fôlego nos últimos quatro anos.

O aumento de adaptações está diretamente ligado à compra de quadrinhos pelo governo federal via PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola).

A relação de obras selecionadas passou a incluir a partir de 2006 histórias em quadrinhos, no formato livro. As compras variam entre 15 mil a 40 mil exemplares de cada título.

Para as editoras - que têm tiragens entre mil e dois mil exemplares e que, quando muito, conseguem vender tudo -, ter uma venda gorda dessas é um negócio atraente.

Como o governo tende a enxergar nas adaptações em quadrinhos um caminho para a obra original, foi onde as editoras miraram. Neste 2010, o número beira duas dezenas.

O mercado de adaptações fez com que editoras grandes, que não costumavam investir no setor, passassem a abrir espaço para autores nacionais.

Luiz Gê, Eloar Guazzelli, Rodrigo Rosa, Fábio Moon e Gabriel Bá - premiadíssimos nos EUA -, Edgar Vasques. A lista é longa. Todos passaram pelas adaptações. Mais de uma até.

A transição para trabalhos mais pessoais já começou. Os últimos dois anos em particular tiveram um volume ímpar de narrativas longas nacionais.

Boa parte foi viabilizada por meio de lei de incentivo. Destaque para o edital paulista de produção de quadrinhos, que bancou 20 obras desde 2008 e outras dez para o ano que vem.

Continua ...

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