quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quadrinhos Eróticos - A desforra da titia

Convidada por uma amiguinha para visitar a casa da sua avó, acabamos indo brincar no quarto da sua tia “solteirona” e como já éramos "dá pá virava" naquela época, fuçamos tanto que encontramos bem ali, embaixo do colchão (que esconderijo mais criativo), inúmeras revistinhas.

A ingenuidade me fez acreditar que, talvez, pudessem ser revistinhas para colorir, porque a maioria delas era em preto e branco, mas depois de uma breve folheada, já estava com as pernas bambas. Era a primeira vez que via a imagem de um homem nu, com todos os detalhes, o pênis, o saco e suas bolas, tudo e ainda estava fazendo sexo com uma mulher.


           Deve ser difícil para a molecada de hoje imaginar que levei onze anos para ver um pênis, quer dizer, a figura de um pênis. Os livros de ciências deixavam muito a desejar e na época não existia a tal da educação sexual, no máximo um vídeo grotesco sobre a prevenção das DSTs.

         Abandonamos as barbies por semanas, aqueles livrinhos então se transformaram na nossa diversão mais divertida. Confesso que li todos, revia os desenhos e decorava os diálogos, até comecei a reproduzir as gírias, que para a minha idade estavam bem ultrapassadas.
              
          Não imaginava por quanto tempo as revistinhas já estavam no esconderijo da titia, mas parecia coisa antiga. As histórias eram bem picantes sobre temas que povoavam as fantasias e desejos sexuais dos homens daquela época, um tanto quanto machistas tenho que admitir.


   Mas como tudo que é ótimo, dura pouco, certo dia chegamos ávidas para mais um sarau erótico e todas as revistinhas tinham desaparecido, provavelmente titia percebeu que estávamos compartilhando da sua literatura secreta. Decepcionadas, voltamos a brincar como os tediosos brinquedinhos do Kinder Ovo.

  Anos mais tarde, ainda me recordava do autor das revistinhas que fizera toda e qualquer brincadeira perder a graça, era Carlos Zéfiro. Pesquisando descobri que as revistinhas eram chamadas de catecismos, porque eram vendidas nas bancas clandestinamente entre as décadas de 60 e 70, dentro dos catecismos católicos, parecidos com os livretos distribuídos nas missas.




              Carlos Zérifo era o pseudônimo de Alcides Aguiar Caminha, funcionário público que, preocupado com o emprego preferiu ficar no anonimato, até que em 1991 deu uma entrevista para  revista Playboy. Tudo começou quando um colega de trabalho pediu para que ampliasse os desenhos de revistinhas italianas de sacanagem. Depois disso começou a desenhar e criar suas próprias histórias. Chegou a vender desenhos para o Uruguai e Argentina, mas confessou que não obteve muito dinheiro com as publicações.
               
            Muitos especialistas contestam a versão de que Caminha e Zérifo sejam a mesma pessoa, afirmando que os desenhos possuíam traços diferentes, o que levaria a crer que os catecismos eram produzidos por uma equipe de autores. Só sei que as revistinhas de Carlos Zéfiro devem ter sido o único catecismo que muitos brasileiros conheceram, inclusive eu.

Curta Metragem baseado nas obras de Carlos Zéfiro:

No site oficial Carlos Zérifo dá para ler vários catecismos:

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