Sujeito a mudanças
Ela é loira, morena ou ruiva. Tem olhos, castanhos, verdes ou azuis e um
corpinho que qualquer um/uma daria tu-do para ter e se chama Hugo.
O estudante de psicologia Hugo, criado pelo cartunista Laerte, sofre uma
transformação e encarna a crossdesser Muriel. Mas que coisa é essa de
crossdesser? É o termo pelo qual as pessoas que curtem se vestir como o sexo
oposto são chamadas.
Contudo não quer dizer, necessariamente, que um homem que goste de se
vestir como mulher seja homossexual. O crossdesser pode ser muito “macho”, ter
filhos, ser mecânico, advogado, cabeleireiro ou cartunista, como o próprio
Laerte que também é crossdesser, ou seja, não tem nada a ver com a orientação sexual ou classe social.
Hugo e Muriel têm personalidades distintas. Enquanto o estudante tenta entender as mudanças pelas quais está passando em meio à maquiagem,
perucas e salto alto, Muriel se esbalda em festinhas e gasta todo salário em
roupas e acessórios. A tira aborda assuntos como o preconceito, violência
contra homossexuais e a descoberta do mundo transex.
Purpurina e quadrinhos
Autores brasileiros de quadrinhos alternativos já trabalham com o tema da
homossexualidade como composição para seus personagens há tempos. É o caso de
Angeli que 1983 deu vida ao personagem Meia Oito, militante de esquerda que não
abandona o discurso saudosista sobre as causas revolucionárias e trava uma
verdadeira batalha para continuar no armário. Em compensação, seu pupilo Nanico
que compartilha de seus ideais, assume a homossexualidade “numa relax, numa
tranquila, numa boa”.
Surgiriam em 1985 os caubóis Rocky & Hudson do cartunista Adão
Iturrusgarai. As moçoilas satirizam a imagem máscula dos caubóis do bang bang
americano. Clint Eastwood ficaria em choque se encontrasse com esses dois pelos
saloons do velho oeste e provavelmente, seria paquerado por eles.
A DC Comics causou polêmica com a revelação da homossexualidade do herói
Lanterna Verde, da série Earth 2, em junho deste ano. No painel realizado na
Comic Con Internacional sobre a homossexualidade nos quadrinhos de super-herói,
o escritor da HQ, James Robinson, contou que as críticas mais hostis foram
feitas pelos leitores brasileiros.
A tendência em introduzir diversidade sexual nos quadrinhos ainda
encontra resistência no Brasil. Mas editoras independentes vêm apostando no
tema, como a Marca da Fantasia, que acaba de selecionar autores de histórias em
quadrinhos que abordem questões ligadas à homossexualidade.
Vale à pena conferir o trabalho desses autores e também abrir a cabeça
para as transformações que estão por vir nos quadrinhos!
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