terça-feira, 28 de dezembro de 2010

300 de Esparta - Frank Miller

Com aproximadamente seis anos de idade, um garoto de nome Frank Miller assistiu a um filme que mudou sua concepção sobre heroísmo e definiu os rumos de sua vida. Tratava-se de uma produção de 1962, chamada 300 Spartans, na qual o hoje consagrado quadrinhista buscou inspiração e baseou sua obra-prima 300 de Esparta, publicada em cinco capítulos pela Dark Horse em 1998. 


Para o pequeno Miller, a história dos 300 guerreiros significou o fim da idéia dos heróis superpoderosos que possuíam domínio sobre a situação, dando lugar a um ideal de pessoas comuns que morreriam por seus ideais sem a menor hesitação.


Depois de décadas, e o nome de Frank Miller passou a ser reconhecido no mundo dos quadrinhos, com subtextos políticos e questionamentos filosóficos. Suas obras sempre ressaltaram os valores do indivíduo sobre forças opressoras, residindo aí uma influência da filósofa russa de extrema direita Ayn Rand, responsável pelos conceitos do Objetivismo. Reconhecimento de público e crítica já garantia a Miller a liberdade criativa para contar à história que quisesse. 


 A nova produção não seria necessariamente historicamente fiel em todos os aspectos, afinal o autor buscava, em primeiro lugar, narrar uma história que entretivesse seu público, mas sem deixar de transmitir uma mensagem poderosa e reconstituir o ambiente e os costumes da época. Para tanto, Miller passou semanas na Grécia estudando sua história e experimentando o modo que vida que pretendia retratar. 


300 de Esparta conta a história do Rei Leônidas e a batalha das Termópilas, em 480 a.C., quando seu exército de trezentos espartanos desafiou os persas, que possuíam o maior exército já montado até então. Belamente roteirizada e ilustrada por Frank Miller, a obra denota uma grande pesquisa, aliada às devidas adaptações e "licenças poéticas" necessárias para contar uma boa história, na mídia dos quadrinhos. 


As cenas de combate presentes são um capítulo à parte. Miller abusa de cortes, texturas e silhuetas. O seu trabalho sempre foi muito elogiado quanto ao design arrojado de suas páginas e a força de sua composição. Mas é o conjunto da página que apraz aos olhos, e não somente o desenho em si. É um misto de elegância e audácia da distribuição dos quadros e seqüências. Em 300, a maturidade de Miller está evidente. Da sua escolha de fazer da página dupla a sua prancha de desenho, transformando a leitura tradicionalmente vertical em amplas horizontais, ao uso criterioso das silhuetas chapadas em meio ao colorido maravilhoso de sua esposa, Lynn Varley. Lynn, que o acompanha como colorista desde os idos de Ronin, pinta de maneira tão dramática quanto as cenas executadas por seu marido. É um colírio ver suas pinceladas depois de anos seguidos de coloridos pasteurizados por computador. 


Mas o mérito da obra não está apenas na arte. A adaptação do texto, que seria insípido para a grande maioria dos leitores, é agradável, tem ritmo, com personagens sólidos e bem construídos. Vale até dizer, que o valor maior está no fato de que Miller instila em seus leitores a curiosidade de conhecer melhor este momento histórico, de buscar nas enciclopédias a verdade histórica dos 300 de Esparta.
 
Os 300 de Esparta foi lançado no Brasil pela Editora Abril, em cinco números, em 1999. Nos Estados Unidos, a Dark Horse, que publicou a mini-série original (com o título de 300), a obra foi premiada, em 1999, com os Eisner Awards de melhor minissérie, melhor escritor/artista (Frank Miller) e melhor colorista (Lynn Varley). Um ano depois de sua publicação, recebeu tratamento de luxo na forma de edição de capa dura em formato horizontal, que valoriza sobremaneira o trabalho artístico de Miller e Varley.


A obra merece, pois é um presente para quem aprecia uma boa aula de história. E, neste caso, de uma maneira muita mais divertida, através de um meio único e arrebatador que são os quadrinhos!

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