O filme resgata grande parte da mitologia nórdica utilizada
para a criação do herói dos quadrinhos. Lugares, deuses e criaturas aparecem na
tela podendo deixar o espectador desacostumado à história perdido.
A trama principal do filme, por exemplo, tem como base um
episódio vivido pelos deuses de Asgard. Enquanto no longa e no quadrinho Thor
perde seu martelo como punição, a lenda diz que ele foi roubado.
O roubo de Mjöllnir
Quando Thor descobriu o sumiço do seu martelo mágico, ele
pediu a ajuda de Loki para encontrá-lo, como retribuição pelo seu resgate da
prisão de Geirrod. Loki tomou emprestado novamente o manto de penas de falcão
da deusa Freyja e saiu voando, até descobrir que o martelo estava enterrado nas
profundezas da terra. O gigante Thrym se recusou a devolvê-lo, a não ser que
recebesse em troca a deusa Freyja como sua esposa. Esta situação causou um
grande alvoroço em Asgard, o martelo sendo uma preciosa arma de defesa dos
deuses. Freyja ficou extremamente irritada e para apaziguá-la, o deus Heimdall
sugeriu um plano engenhoso, sem colocar Freyja em perigo. Para isso Thor devia
usar um martelo e véu de noiva e viajar até Jötunheim como sendo a própria
Freyja, acompanhada de sua dama de honra, o disfarce usado por Loki. Thor
custou a aceitar por se sentir insultado se aparecesse como mulher, mas cedeu
vendo que sem o martelo, Asgard iria sucumbir perante os gigantes.
Ao chegar a Jötunheim, no meio de uma forte tempestade
provocada pela carruagem de Thor, a "noiva" e sua acompanhante foram
recebidas com muita alegria e um farto banquete. Porém, o voraz apetite da
"noiva" causou muito espanto e desconfiança, até Loki argumentar que
a "noiva" tinha devorado um boi e oito salmões devido à sua ansiedade
pré-nupcial, que a tinha feito jejuar por oito dias. Quando Thrym tentou beijar
a noiva, ficou assustado com o brilho feroz dos olhos que o fulminaram através
do véu, mas Loki novamente explicou que Freya não tinha conseguido dormir há
oito noites por estar tão ansiosa em se casar. Para apressar o casamento, o
martelo foi trazido e, conforme o costume, colocado no colo da
"noiva" para selar o matrimônio. Assim que Thor o teve nas mãos,
levou pouco tempo para matar todos os gigantes convidados para a festa,
incluindo o próprio Thrym, retornando em seguida triunfante para Asgard.
Nessa história cômica e com episódios bastante implausíveis,
podemos reconhecer a dedicação de Thor e seus esforços para proteger os deuses
e Asgard, até mesmo sacrificando temporariamente sua famosa agressividade e
proverbial masculinidade. Thor age como um verdadeiro xamã, mantendo a
integridade da comunidade, protegendo-a das agressões externas e se
movimentando entre os mundos usando diversos disfarces ou metamorfoses. Seus
vários títulos definem suas atribuições, sendo conhecido como Guardião de
Midgard, Deus dos camponeses, Thrudugr (o poderoso), Thrudvald (o grande
protetor), Senhor da fúria justificada, Amigo da humanidade, Matador dos
gigantes, Campeão de Asgard, Dono do cinto de poder, Thunar Karl (o velho
Thunar), O Vingador, O deus trovejante.
Nascido da terra, Thor protegia e dava estabilidade, ele
revigorava e centrava seus adeptos e seguidores, conferindo tenacidade e
perseverança, segurança e coragem. Percebendo o seu escudo, a força do seu
cinturão mágico e a defesa conferida pelo seu martelo, possibilitava aos
guerreiros nórdicos ver Thor como um valioso amigo e aliado, guardião e
protetor contra injustiças, agressões e maldades.
Os gigantes - inimigos eternos de Thor - eram também
representados pelas calamidades naturais, os desequilíbrios climáticos e ecológicos,
a ganância dos proprietários de terra, as injustiças e desigualdades entre as
classes sociais e com os povos nativos, os permanentes conflitos com os
vizinhos, entre as tribos e os familiares, a corrupção de monarcas e chefes
guerreiros, em suma o caos e a violência, em todos os níveis e formas de agir,
que foram crescendo e se expandindo até desencadear o cataclismo do Ragnarök.
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