
Em 1962, surgiu o deus nórdico Thor nas HQs. Personagem esse que apresentava em sua origem, como uma de suas características marcantes, a convivência aparentemente intransponível com uma situação adversa: ele é, na realidade, um médico medíocre, franzino e deficiente físico, que tem dificuldade para declarar seu amor à sua enfermeira. Mas, além disso, fazia uma relação direta dos super-heróis dos quadrinhos com o campo da mitologia, enveredando pelas narrativas dos deuses nórdicos, repletas de mistérios e fascínios.
A convivência do herói fisicamente limitado com seu
alter-ego divino revelou-se uma fórmula vitoriosa, garantindo a sobrevivência
do personagem quadrinhístico durante anos a fio. Também participou desse
sucesso a plêiade de personagens coadjuvantes que Lee pouco a pouco foi
adaptando ou criando e acrescentando às histórias do Deus do Trovão. E os
exemplos são muitos e fascinantes: o arquivilão Loki, Deus do Mal, feiticeiro e
meio-irmão de Thor, que nutre pelo herói um ódio visceral e se desdobra em
artimanhas para destruí-lo; Odin, o senhor de todos os deuses de Asgard;
Balder, o melhor amigo do herói; os três guerreiros Fandral, Hogun e Volstagg,
uma paródia dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas; e a deusa da Morte Hela.
A esses personagens, releituras de criações lendárias ou da literatura,
mesclavam-se locais e acontecimentos diretamente retirados das narrativas
mitológicas nórdicas, como o reino Valhala, local para onde vão todos os
espíritos dos guerreiros que morrem em combate; a Ponte do Arco-Íris, que liga
os nove mundos de Asgard; e o Ragnarök, metáfora para o apocalipse.

Logicamente, como ocorre com todo personagem de quadrinhos que se origina de uma grande editora dedicada à produção massiva, as histórias de Thor apresentaram altos e baixos, dependendo dos artistas que por elas foram responsáveis. Mas os períodos ruins são rapidamente esquecidos pelos leitores, que preferem guardar na memória apenas aquelas narrativas de maior destaque, seja do ponto de vista de uma arte gráfica inusitada, seja sob a égide de um enredo fascinante. Nesse meio século de existência, o Deus do Trovão foi protagonista de séries ou histórias memoráveis, que até hoje fazem a alegria de muitos leitores. Entre elas, podem ser destacadas aquelas elaboradas por Walt Simonson, na década de 1980, que trouxe uma visão muito particular ao herói e introduziu personagens memoráveis, como o alienígena Bill Raio Beta, que durante algum tempo substituiu o filho de Odin.

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