Imagem de 'Daytripper', de Fábio Moon e Gabriel Bá, que mostra a vista do Edifício Martinelli, no centro de São Paulo (Foto: Flavio Moraes/G1)
O Centro de São Paulo, que às vésperas do 458º aniversário da cidade se vê às voltas com o combate ao uso do crack, é por outro lado um cenário fértil para a imaginação de quadrinistas. Nas páginas das HQs, a região central é reinventada e visitada por diferentes personagens criados por autores que nasceram ou adotaram a cidade como sua.
É o caso de “Daytripper” (Panini), dos gêmeos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá. A obra vencedora do Eisner (prêmio mais importante deste mercado) traz a capital paulista tanto como cenário quanto como protagonista. “São Paulo é personagem de qualquer história, já que tudo pode acontecer nela. Estamos expostos aqui a todo tipo de situação: tem o verde, os arranha-céus, tem os aeroportos... Esse caos visual cria uma textura, um sabor para a história que faz parecer natural que o personagem interaje com ela”, acredita Moon, de 35 anos.
A Estação da Luz pelos traços de Guilherme Fonseca e Reonoir Santos (Fotos: Flavio Moraes/G1)
Mesma opinião tem Daniel Esteves, de 29 anos, autor da obra “Nanquim descartável” (HQ em Foco), que traz cenas da Praça Roosevelt e de ruas do Paraíso em sua história. “A região entre a Paulista e o Centro é a que tem os bares que eu gosto em São Paulo. Na Praça Roosevelt há bares e teatros, ela quebra um pouco com a ideia que as pessoas têm do Centro como sendo de um lugar sujo, malvado”, afirma.
Segundo Danilo Fonseca, autor de “Fiapo e La Peña”, obra também ambientada no Centro, São Paulo é como uma Gotham City – cidade fictícia que é palco das histórias do Batman. “Todo quadrinista precisa de uma Gotham City. São Paulo é a minha.”
Para ele, o grande atrativo do município é a sua multiplicidade. “São Paulo é multiétnica e multicultural. Aqui pode haver todo tipo de personagens, e todos serão universais.” Questionado sobre o lado ruim da capital, Fonseca citou duas coisas que odeia nela. “A poluição e os prefeitos que não cuidam da cidade.”
Apesar de retratar em “Fiapo e La Peña” o Centro como um lugar perigoso, com o crime rolando solto, o autor afirma que todo turista deveria visitar a região. “São Paulo se tornou a cidade mais importante na minha vida. Ela representa passado, presente e futuro.”
Ele explica que não se trata de uma relação tão obvia de usar a cidade como cenário, mas sim de usar o seu próprio cotidiano e as situações que vive como inspiração. Um dos personagens no “Nanquim descartável” é uma estudante da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, mesma universidade que Esteves frequentou e onde se formou em história.
Já o quadrinista Rogério Vilela, de 41 anos, vê São Paulo como uma possibilidade de ampliar os temas dos quadrinhos no Brasil. “Tem gente que ainda entende que o quadrinho brasileiro tem que retratar coisas tradicionais como folclore, saci, lendas etc.”, afirma. Seu trabalho atual, “Joquempô” (Devir), distancia-se completamente desse paradigma e busca retratar a vida em São Paulo, de pessoas sozinhas que procuram seu lugar no mundo.
A primeira de sete edições já foi publicada e traz como protagonista Marcel, um alterego de Vilela que também é quadrinista e que tenta ligar os pontos da realidade após acordar de um coma de três anos. A história se passa em 2014 e o Centro é um dos cenários. A cidade é governada por uma “parceria” entre a Prefeitura e uma facção criminosa e todos os pobres foram jogados no centro da cidade, depois separado do restante por meio de um muro.
Estação de metrô Trianon-Masp foi retratada na HQ 'Joquempô', de Rogério Vilela (Fotos: Flavio Moraes/G1)
Estações do metrô e até o Shopping Center 3, da Avenida Paulista, acabam virando cenários da trama. Outros bairros estão modificados: o Marginal Pinheiro ganhou um monumento em homenagem a um político.
A paixão por retratar a cidade não significa que Vilela morra de amores pela capital. Ele, como vários outros moradores, diz odiar o trânsito, e que esse problema levou-o a cogitar deixa a cidade há dois anos. Só não se mudou porque encontrou uma casa dentro de um condomínio no Morumbi, na Zona Sul, que o fez mudar de ideia. “Fica num lugar com espaço e verde. Parece interior. Por isso fiquei.”
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