Fredric Wertham, psiquiatra alemão, resolveu personificar um monstro ou vilão dos quadrinhos ao escrever o livro Seduction of the Innocent (Sedução do inocente). Em sua obra, esmiuçou suas idéias sobre o “verdadeiro intento subversivo” por trás dos quadrinhos. Dentre as hipóteses do tratado, havia a de que a Mulher Maravilha representava idéias sadomasoquistas, mas a mais famosa – e que ainda perdura em alguns meios – é a da homossexualidade da dupla Batman e Robin.
A obra de Wertham foi a mais perfeita expressão no terreno das HQs da “caça às bruxas” vigente ao longo daquela década, que, numa onda sem precedente de conservadorismo, causou vítimas também no cinema, no teatro e na televisão.
Nos anos cinqüenta, o medo era geral, pois os soviéticos tinham agora a bomba atômica e os americanos repeliam tudo que parecesse ameaça ou subversivo dessa superpotência ao seu precioso “american way of life”. O inimigo da humanidade (americana…) passou a ser todo aquele trajado de vermelho, foice e martelo.
Numa demonstração de que comuna bom é comuna morto, Namor (O Príncipe Submarino) rechaçava insidiosos golpes de aquáticas foices e martelos, enquanto, de volta por um breve período no ano de 1954, o Capitão América ensaiava sopapos anticomunistas.
A década de 60 foi marcada pelo novo boom de hérois. A Marvel Comics (chamada A Casa das Idéias) promovia uma nova gênese de mocinhos e bandidos, muitos dos quais hoje recebem nova roupagem nos cinemas. Entretanto, originalmente também vieram como contra argumento à Guerra Fria, sob uma ótica mais crítica agora.
- Quarteto Fantástico: os quatro “desafiadores do desconhecido” se aventuraram em uma missão espacial não-autorizada, que acabou frustrada por falhas técnicas, porém gerando quatro dos mais carismáticos heróis dos quadrinhos (interessante que Reed Richards, o Gênio do grupo, também chamado de Sr Fantástico, não presumiu que a nave que ocupavam estaria sujeita a radiações espaciais…). Eram uma prévia do sonho americano de dominar o espaço, a começar pela Lua.
- O Incrível Hulk: Robert Bruce Banner, cientista do governo americano, desenvolve a mais mortal das bombas atômicas: a Bomba Gama. Em seu primeiro teste, um jovem rebelde-sem-causa chamado Rick Jones invade a área de testes. Dr Banner, (não sabemos porque justamente ele, se o local estava cheio de militares), sai da casamata para salvar o garoto. Neste interim, um espião (adivinhem), russo, detona a bomba prematuramente, apanhando Bruce Banner (que sobrevive!). Como efeito colateral da radiação, passa a se transformar no monstruoso Incrível Hulk, sempre que submetido a situações estressantes.
- Homem de Ferro: ferido no Vietnã (um fiasco americano) o famoso empresário-playboy-alcoólatra entraria nas fileiras da Marvel como símbolo da modernidade americana. Caridoso, problemático, seus piores inimigos sempre foram os orientais (que coincidência, os maiores concorrentes tecnológicos americanos eram os orientais…).
- Homem Aranha: o jovem Peter Parker, típico nerd criado com a Tia, é picado por uma aranha irradiada (nova referência aos efeitos das radiações) e desenvolve poderes … de Aranha! Vive sob o dilema de “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Talvez por isso todo presidente americano tenha em mente que também é presidente do mundo, portanto sua responsabilidade…
- Demolidor: o jovem Matt Murdock sofre um acidente e se expõe a elementos quimicos perigosos, ficando cego. Porém seus outros sentidos desenvolveram-se incrivelmente, utilizando-os como radar. Começa a onda de justiceiros urbanos, preocupados com minorias (afinal, ele se torna advogado).
- X-Men: também conhecidos como Filhos do Átomo, personificam a maioria dos pecados cometidos pela humanidade – nossos filhos nasceriam com os resultados de nossas exposições à radiação, produtos químicos, poluição, enfim, resultados de alterações genéticas que proporcionariam poderes incríveis. Mas estas mutações os tornariam párias na sociedade, evocando a crítica à discriminação racial e pureza genética. Também ficava evidente o medo de “algo superior”, rejeitando o novo e abrindo portas para novos dilemas, como a manipulação genética. Foi com eles que Hollywood começou a febre das adaptações (bem sucedidas) dos heróis em quadrinhos para a telona.
A arquirival da Marvel, a DC Comics, tentou combater a expansão da concorrente também com novos hérois. Entretanto, a era de prata foi marcada pela revolução da Casa das Idéias, consolidando a posição de líder nos quadrinhos na época, por criar os ícones que já influenciam duas gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário