A longa estrada dos quadrinhos no Brasil continua sendo percorrida e ainda há muito a ser trilhado. Sabe-se que não é a ideal. Os condutores precisam dirigir com cuidado. Mas é, sem dúvida, um caminho com menos buracos e curvas que antes, rodado por veículos dos mais diferentes modelos, muitos deles nacionais, uma novidade.
O cenário do passeio também é mais atraente, mais eclético, diversificado, com mais opções a serem apreciadas.
Para entender como se chegou ao hoje, é necessário olhar para trás e ver com cuidado o rastro de fumaça deixado na estrada dos últimos dez anos. Uma década de transições.
Das bancas às livrarias. Do "fim" das bancas para o retorno triunfal a elas. Da Abril e da Globo para a Panini. Das poucas opções editoriais ao surgimento de uma gama de logos.
Das editoras tradicionais à venda delas. Das poucas às muitas pesquisas. Dos super-heróis à esmagadora presença dos mangás. Dos jovens aos adultos.
Da quase ausência dos quadrinhos no ensino para a inclusão em gordas listas governamentais.
Do espaço raro na grande mídia para as reportagens recorrentes.
Do comercial ao independente. Do papel para a internet. E da internet de volta para o papel.
A década começou com um discurso herdado do século anterior, talvez um eco do tal "bug do milênio".
Falava-se com convicção do declínio de vendas nas bancas.
Uma aposta disso era a publicação de álbuns pela Via Lettera, Conrad, Opera Graphica e Devir - e outras que se perderam pelo caminho. As obras se distinguiam pelo formato livro.
A Conrad, em particular, construiu um trabalho de formiguinha de convencer livrarias tradicionais a vender os produtos em quadrinhos. O processo, vê-se hoje, foi bem sucedido.
A série Sandman ajudou muito nesse processo. Reeditada em formato de luxo, costumava atrair bons comentários da grande imprensa e chegava aos não leitores da área.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. A seção de quadrinhos das bancas não morreu. A das livrarias cresceu, em particular a partir de 2006. Em algumas, o aumento anual foi de 30%.
A questão das bancas, vista então em estado comatório, estava muito influenciada pelas publicações de super-heróis, entre as mais comentadas da década final do século 20.
A Editora Abril, que na época detinha os direitos dos principais super-heróis norte-americanos, tentava se reinventar para atingir leitores mais maduros, com maior poder aquisitivo.
Uma das estratégias foi a linha Premium, revistas de mais de 150 páginas, com papel especial e mais caras. Não tiveram o retorno esperado. E antecederam a troca de editora.
A multinacional Panini tinha força até então no setor de álbuns de figurinhas. Ainda tem, registre-se. A empresa procurou diversificar os investimentos na última década. Funcionou.
O olhar se direcionou para o mercado de quadrinhos. Primeiro, adquiriu os direitos de publicação dos heróis da Marvel, dona de Homem-Aranha, Hulk e X-Men, então na Abril.
Em janeiro de 2002, lançou os primeiros títulos, inicialmente num tamanho maior, depois no chamado formato americano, o mesmo usado hoje. Foi um baque para a Abril.
Continua .... Fonte : http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br
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